Em meio à devastação causada pelo tornado que atingiu Rio Bonito do Iguaçu no último dia 7 de novembro, um gesto silencioso, persistente e profundamente cristão tem sustentado centenas de pessoas envolvidas na reconstrução da cidade.

Desde o sábado (8 de novembro de 2025), o movimento “Homens de Fé”, de Guarapuava, organiza diariamente a produção e distribuição de cerca de 700 marmitas destinadas aos voluntários e equipes de trabalho que atuam no atendimento às famílias atingidas.

Acácio Marcondes, integrante do movimento, explica que a iniciativa reúne entre cinco e seis membros fixos na cozinha, além de voluntários da Paróquia Santo Antônio de Pádua e das equipes responsáveis pela entrega das refeições. “Normalmente, por refeição, são 30 ou 40 pessoas envolvidas. São, em média, 700 marmitas por dia servidas”, detalha.

Segundo ele, desde o início a prioridade foi atender sobretudo quem está trabalhando na linha de frente da reconstrução. “A nossa ideia, desde o dia que a gente foi, era fazer para o pessoal de trabalho, para os voluntários. Às vezes o pessoal leva muita cesta básica, muita coisa, e esquece que eles precisam comer na hora. Então a ideia era servir a população, mas focar na equipe de trabalho: polícia, bombeiros, defesa civil, voluntários, pedreiros, gente que vem de outras cidades — tem gente do Brasil inteiro lá”, afirma.

O grupo também recebeu ajuda generosa de voluntários de diversas regiões do país. “Na cozinha teve gente do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul ajudando a gente. Estamos trabalhando desde o sábado, dia 8, ao meio-dia. A tragédia foi na sexta, e no sábado, meio-dia, algumas pessoas da equipe já estavam lá com carga de água e bolacha”, recorda Acácio.

O movimento iniciou a arrecadação ainda na manhã de sábado. A estrutura para cozinhar foi cedida pelo pároco de Rio Bonito do Iguaçu, padre Christian, que liberou a cozinha da igreja para o trabalho inicial. “A gente começou usando a cozinha da paróquia. O padre liberou fogão, equipamentos. Levamos só os insumos e o gás”, explica.

Com o avanço das ações de segurança, a equipe precisou deixar o local. “Num primeiro momento ficamos na cozinha da igreja, mas os bombeiros e a defesa civil condenaram o espaço. Tivemos que sair e fomos para uma casa, e o pessoal está lá desde então”, relata.

Acácio conta que sua principal função tem sido cuidar da logística e da arrecadação. “Quem comanda a cozinha é o Rocha e o Gabri, nossos cozinheiros. Eu fico na logística. Levamos a carne de Guarapuava, vou quase diariamente para lá. Se falta tempero, se falta algo, eu vou buscar. Faço essa parte burocrática também”, diz.

As doações que sustentam o trabalho vêm de vários lugares. “Levamos doações da Catedral e da Paróquia Dom Bosco. Recebemos apoio de grupos dos Homens de Fé de outros lugares, como Maringá. No sábado tivemos a visita do coordenador do próximo acampamento dos Homens de Fé, de Virmond, que levou alimentos para doação. E a nível nacional, recebemos apoio de São Paulo. Também chegaram doações espontâneas”, acrescenta.

O grupo pretende permanecer em Rio Bonito do Iguaçu até o próximo domingo, 23 de novembro. “Vai dar duas semanas, 15 dias. Esse é o mínimo que queremos ficar. Talvez possamos ficar mais, depende da demanda e da disponibilidade da dona da casa onde estamos”, comenta.

Para o encerramento dos trabalhos, os Homens de Fé planejam uma tarde de confraternização para as famílias e voluntários. “Queremos fazer uma tarde de pizza, em parceria com a Pizzaria Paulistana. Vamos levar sorvete da Gebon. O pessoal de Candói deve mandar brinquedos infláveis. Vai ser uma parceria dos Homens de Fé, da Paróquia Santo Antônio de Pádua e do JOAM. É uma ideia que já está certa de acontecer, só vamos ver o que teremos lá. Estou correndo atrás disso tudo”, adianta Acácio.

No último final de semana os “Homens de Fé” levaram doações também no Assentamento Nova Geração, em Guarapuava, local atingido por outro tornado.

(Com Jorge Teles)